Desde o emagrecimento até ao aclaramento do cabelo, o sumo de limão é o ingrediente principal de várias receitas caseiras que prometem muito, mas cumprem pouco… e que, por vezes, são até perigosas para a saúde.

Desta vez, alega-se nas redes sociais que o sumo de limão é uma boa alternativa ao desodorizante convencional. Mas será seguro colocar limão nas axilas? Quais os perigos?

É seguro para a pele utilizar sumo de limão como desodorizante?

Em declarações ao Viral, Rui Tavares Bello, dermatologista no Hospital Lusíadas Lisboa, e Aliya Nurdin, dermatologista da Personal Derma, concordam que usar sumo de limão nas axilas não é seguro.

Rui Tavares Bello começa por explicar que “não há evidência científica, clínica ou epidemiológica que sustente a utilização do sumo de limão como desodorizante”, nem há qualquer evidência de que esta seja uma prática benéfica para a pele.

Aliás, utilizar sumo de limão como desodorizante pode ter riscos. Em primeiro lugar, porque “o sumo de limão tem uma composição que não é unívoca ou uniforme” e que o seu pH varia “de caso para caso”, adianta o dermatologista.

Além disso, sublinha, “há que ter em conta que estes citrinos incluem na sua composição substâncias que quando se aplicam na pele podem desencadear quadros de irritação, alergia ou fototoxicidade”.

Quando se dá uma irritação, acrescenta Aliya Nurdin, “a pele pode formar uma hiperpigmentação pós-inflamatória”. Isto é, “a pele, em vez de clarear, fica escura” e “esse escurecimento da pele é muito difícil de tratar”.

Noutro plano, essa irritação também “pode levar ao eczema”. De facto, com esta mezinha, o odor pode ser atenuado, “mas passamos a ter uma pele muito seca e isso é muito desconfortável”.

Para mais, a exposição solar depois da aplicação de sumo de limão na pele “pode provocar uma queimadura química”, adianta a especialista. 

No mesmo sentido, esclarece Rui Tavares Bello, as “furocumarinas” – que são “componentes químicos do limão que são nocivos” – “podem desencadear na pele reações de fototoxicidade uma vez expostas ao sol ou a outras fontes luminosas”. 

Estas reações “são dolorosas, de tratamento difícil e evoluem para pigmentação inestética duradoura”, alerta o médico. 

Assim, ambos os dermatologistas desaconselham a utilização de sumo de limão como desodorizante. Rui Tavares Bello considera ainda relevante sublinhar que “as pessoas com peles finas, delicadas e sensíveis, como idosos, crianças, ou pessoas com doenças da pele correm riscos acrescidos de reações negativas ou complicações” caso sigam esta receita caseira.

Porque é que o limão é usado nestas receitas caseiras?

Aliya Nurdi começa por explicar que a “a transpiração em determinados locais, nomeadamente nas axilas, na região pineal, é muito formada pelas glândulas apócrinas – determinados tipos de glândulas que só existem em regiões específicas do corpo”.

Estas glândulas “secretam suor” que, nestas localizações, “é composto por bactérias, por isso é que tem odor”. Por outras palavras, “a transpiração em si não tem odor, mas o facto de ser composta por bactérias faz com que haja esse odor”, clarifica a dermatologista.

O que é que o limão vai fazer quando aplicado nas axilas? “O ácido cítrico presente no limão vai levar à morte destas bactérias e, consequentemente, o odor deixa de ser produzido”.

Um produto testado é a escolha mais segura e eficaz?

A maioria dos produtos que estão à venda no mercado, vulgarmente conhecidos como desodorizantes, “são essencialmente antitranspirantes”, ou seja, “diminuem a produção de suor”, salienta Aliya Nurdin. 

Quando aplicamos o desodorizante “formamos uma película protetora sobre as glândulas”, levando a que, durante algumas horas, “deixem de produzir tanto suor”. Ao longo do dia, esta película “vai saindo”, devido à fricção dos movimentos e da roupa.

A maioria destes produtos também tem “componentes antibacterianos que vão atuar e matar as bactérias, por isso, o odor corporal não é formado”. Desta forma, os desodorizantes testados “dão-nos uma solução dois em um”, sustenta a médica.

Segundo Rui Tavares Bello, a “incorporação – bem estudada e desenvolvida cientificamente – de ingredientes emolientes, calmantes e suavizantes” nestes desodorizantes disponíveis no mercado previne o “aparecimento de irritações ou alergias nas zonas axilares”.

Na hora de escolher um desodorizante, o dermatologista aconselha que se avalie “a sua proveniência (desenvolvimento e fabrico) e as alegações no rótulo ou na embalagem” que deve incluir, “preferencialmente, as expressões ‘testado dermatologicamente’ e ‘indicado para peles sensíveis’”.

Na perspetiva de Rui Tavares Bello, deve ter-se presente que, em geral, “as apresentações mais seguras e menos irritantes são os sticks e os [desodorizantes] mais potencialmente irritantes são as formulações em spray”.

Dado que existem mais vantagens em optar por um desodorizante convencional e mais desvantagens em aplicar sumo de limão nas axilas, os dois dermatologistas referem os produtos testados como a opção segura e acertada.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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